Uma carta, uma simples carta...
Já lá vai tanto tempo que até pareço não saber escrever, mas no fundo não é isso, apenas não consigo descrever a sensação que me inunda o corpo de uma dormência tão grande até me paralizar o sangue...
Alguém disse um dia...
"O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. É preciso paciência. Porque o tempo parece nunca mais acabar e somos projectados para um ponto muito longe do convívio entre os humanos. Faz parte do sofrimento deturpar as coisas, vê-las através de lentes tão fortes que facilmente entontecemos, desiquilibramo-nos, caímos. Temos medo de tudo, de nós mesmos. A simples superfície das coisas nos agride. Somos assaltados por demónios que nos roem a alma. É um tormento em que nos atormentamos. É preciso ter paciência e na maior parte das vezes não a temos. A violência da vida bate-nos em cheio. Procuramos abrigos e todos cedem e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso, ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para ela nem encontramos um motivo. O mundo todo é um mal-entendido que aguardamos que se resolva ou estoire e enquanto nada acontece sofremos. Agarramo-nos a coisas que nos escapam entre os dedos. Só a morte está por todo o lado desperta, cerca-nos, olha-nos com os olhos muito abertos, mete medo. Fechamos os olhos, mordemos os lábios, fugimos para debaixo da cama e não há maneira. O amor é uma coisa tão distante, tão impossível. Vivemos, momento a momento, uma solidão que nos aperta a garganta, faz de nós o que quer. Uma música, uma palavra, uma folha caída e é o suficiente para nos trazer uma irremediável precisão de chorar. E quando choramos não sabemos porque o fazemos, é só a tristeza a tomar conta de nós. O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. "
E é assim que me sinto... Sem saber como nem porquê acho que amei demais e agora estou sem amor... Dei o que tinha e até o que não tinha e, de repente, sem perceber foste embora e deixaste-me assim. Tal como entraste na minha vida, sem sabermos o que havia de ser no dia seguinte (e tinha a sua piada), assim saíste... Já não estava a contar com isso...
Mas eu sempre te disse que havias de ser tu a ir embora e tu nunca acreditaste...
Talvez queiras chamar-lhe um sexto sentido que eu, por ser mulher, tenho... Ou então porque sempre soubeste que te amei muito mais do que tu a mim...
Um beijo... Triste...